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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O cartão do doutor

O causo vai pra mais de vinte anos.

O protagonista era conhecido médico de São Luís – a fama pelas bravatas e chiliques em público além das qualidades profissionais.

Final de tarde, padaria cheia, o astro-rei puxa cartão de crédito – uma raridade à época – para meia dúzia de pães.

A caixa rejeita o estrelado e pede papel-moeda trocadinho, de preferência.

Foi o bastante.

O homem alteia o vozeirão e manda:

“Minha filha, qualquer pessoa de posição neste país não carrega dinheiro. Só cartão”.

A mocinha não perdeu a esportiva.

“O senhor tem cartão, mas não carrega o que eu carrego”.

E o acartonado, visivelmente perplexo:

“O quê?”

“Educação, meu senhor. Educação!”

A padaria veio abaixo em risos ruidosos.

O médico se retirou vexado, os pães “esquecidos” sobre o balcão.

Nunca mais o vi.

Soube, anos depois, que o encontraram morto. Se abraçado ao seu cartão não sei, nunca disseram.

Coitado, sequer esperou os pães do café da manhã.

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