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terça-feira, 31 de maio de 2011

Vias Crucis

Trânsito infernal?

Então espere cruzar com os condomínios que anunciam pela mídia.

Um pegado ao outro, centenas de sinais a fechar qualquer saída.

E novas vias para São Luís?

Crucis.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Conta secular

“... todas as despezas feitas por esta sociedade com o certamem
commemorativo foram pagas pelo auxílio pecuniario que lhe prestou o
governo do Estado, recebido por tres vezes na importancia total de dois
contos quatrocentos e sessenta mil reis (2:460$000), como verificareis do
balanço do nosso Thezoureiro”,
cita o escritor Domingos Perdigão, em 1912, em discurso na abertura do tricentenário da Cidade de São Luís.

Perdigão foi diretor da Biblioteca Pública e participou da fundação da Faculdade de Direito do Maranhão em 1918.

Coube ao governo Luis Domingues (1910 -1914) abrir as portas do Maranhão aos empréstimos internacionais.

A pretexto de sanear as contas do estado, tomou aos banqueiros Mayer Freres & Cia., por intermédio do Banco Argentino Francês, 20.000.000 de francos pelo prazo de 25 anos, a juros de 3% e amortização de 2%.

E o destino dos francos?

Segundo o historiador Mário Meireles, o empréstimo bancou empresas particulares e pagou dividas públicas acumuladas. Ambos consumiram cerca de 80% do dinheiro.

Os outros 20% teriam sido gastos em “compromissos menores, imediatos e inadiáveis”, ainda segundo Meireles.

Acredita-se que as despesas com tricentenário foram pagas com as “sobras” do empréstimo.

À dona dos estilos

Registro com pesar a morte de Flor de Lys.

Era inconfundível, inimitável.

Na tevê, abusou de peripécias para não perder matérias. Só um bom repórter o faz.

Félix Lima coordenou entrevista longa e inédita com a colunista ainda vibrante, generosa em linguajar e ideias. Por certo a guarda. Quem sabe não nasça daí novo livro do jornalista.

A vi pela última vez em festinha de final de ano na casa de Orquídea, filha, a saúde já abalada, as idas a médicos cada vez mais constantes.

Orquídea, Mhário Lincoln.

Chorem pelos que não souberam viver. Flor de Lys soube intensamente.

Mãos à obra, caros.

Sobre a dona dos muitos estilos há muito a contar.

domingo, 29 de maio de 2011

Na bucha

Nos anos setenta o Sampaio Corrêa mandou buscar – sabe-se lá onde – penca e renca de jogadores gaúchos.

Chegaram como "salvadores" do futebol maranhense, saíram no revestrés da fama.

Num domingo de futebol, um dos “cobras” foi a estrela do “Futebol de Meia Tijela”.

A entrevista chega ao tema “Preferências Pessoais”.

O gaúcho gostava de loiras e louras, e de uma porção de coisas bacanas.

Grandessíssimo gozador, Rui Dourado dispara.

“Prato preferido?”.

O convidado, sem titubear:

“Misto quente”.

Menos mal. Poderia ter dito “Colorex”, a louça da moda.

Xeleleu aos domingos

É do radialista maranhense Rui Dourado uma das pérolas da radiofonia nacional.

Criativo e irreverente, “Futebol de Meia Tigela” fez baita sucesso nos anos sessenta, na Rádio Gurupi – então emissora dos Diários Associados.

Uma década mais tarde o programa foi parar na Rádio Difusora e, anos depois, na Rádio Timbira. O radialista José Branco integrava o elenco.

Não houve domingo de Nhozinho Santos sem o “Xeleleu”, personagem criado por Rui para caçoar das coisas do futebol.

Nenhum cartola ou jogador escapou da língua afiadíssima do maroto.

Estudantes de Comunicação – não só de Radiojornalismo – deveriam tentar resgatar os áudios.

São aulas de competência e – saibam logo os que não conhecem – sem a parafernália tecnológica de hoje.

Perdidos no espaço

Um bando de malucos passa os dias a matar crocodilos em pântanos (os bichos parecem inofensivos diante da fúria dos caçadores).

Outro biruta trucida com serra elétrica tudo o que vê pela frente (começou treinando no próprio cérebro, desconfio).

Uma cambada de caminhoneiros enfrenta estradas de gelo para entregar bagulhos em cidade ao lado do Pólo Norte (vestidos daquele jeito até parecem papais noeis fora de época).


Um sujeito metido a engraçado pensa que quem entra na sua loja de penhores está à venda (o filho tatuadão deve ter vindo de venda desfeita).

Uma dúzia de tagarelas entope teu saco de dívidas e ouro e prata (uma das múltiplas versões de “Faça teu ladrão brilhar”).

Vem cá, foi pra isso que me convenceram a ter tevê a cabo?

Fora de ação

De um site de notícias:

“Ação alerta jovens sobre os perigos do cigarro na capital”.

Mensagem entendida.

Fora da capital podem pitar à vontade.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Escovas em riste

Grupo numeroso de senhoras perdeu a cabeça com a greve dos rodoviários.

Cabeleireiras, manicures, depiladoras e esteticistas sumiram por encanto.

Do Alto da Esperança ao Maiobão, não houve mototaxista que as encontrasse.

Quantas escovas, alisamentos, peelings e máscaras faciais desfeitos.

Não soube de casamentos durante a semana.

E nem de mulheres que quisessem se separar e mostrar o rosto em público sem o seu Lancôme.


Soube de noivas neuróticas, de nenhuma pelo noivado desfeito.

Aos pobres maridos restaram uns trocados a mais na carteira e feroz greve de sexo.

De silêncio, tiram de letra.

Esteja certo.

Certas greves determinam os altos e baixos da nossa sociedade.

Of course

Os marqueteiros castelãos perderam o chá das cinco.

O imposto daqui maior que o de Londres, poderiam ter rebatizado a ilha de “Nova Inglaterra".

Castelo e palácios temos de sobra, mas será que o Parque do Bom Menino leva jeitão de Hyde Park?

Vai ver, é descritinho.

Lost

“Não estou entendendo mais nada”.

O prefeito teria resgatado a frase de piloto da Air France ao ser informado sobre a queda do IPTU.

O espinhão

Não li uma linha sobre o andamento da obra do espigão da Ponta D´Areia.

É marco importantíssimo, pioneiro nesse mar que um dia espanhóis e portugueses repartiram por tratado.

Fosse o chá de bebê da terceira das torres gêmeas teriam providenciado charuto cubano e leitinho doze anos.

Mas afinal de contas.

Jogaram areia grossa ou não na espiga grande?

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A morte da Flor

A Flor morreu.

A do Samba, a de São Pantaleão.

De Carnaval e mordida de Piranha foi não.

Tantos os beijos, trocaram de Flor e quintal.

Foram atrás de novo rei, serve não Dom Sebastião.

Ao Quinto dos Infernos com tamanha assombração.

São João tresloucado

Um ladrão baleado surrupia viatura do trânsito para fugir à perseguição policial.

Só mesmo a falta de ônibus na cidade pode explicar a ousadia.

Baleado?

Que sorte a do 9º BT.

Esperasse as festas juninas, o homem levaria o batalhão.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O cão anda à luz

Conhecem outra capital com tantos cães vadios por ruas e praias?

Centro, bairros, invasões, praças, Litorânea, Lagoa.

Não há lugar chinfrim e chique sem a cachorrada à vista.

Não há escuridão que os perca. Sol não há que os apanhe. Não há serpente e prata que os iluda.

Um magote deles guarda a entrada de agência bancária na Pedro II.

Outros, sabe-se lá qual palácio.

Vê-se o cão nessa cidade onde não se vê pobre diabo a caçá-los.

Fora da pauta

Viram pela tevê as paradas vazias pela greve dos rodoviários?

Vazias?

Capim de anteontem e abundante brotava sob os bancos, entre restos de calçada e lixo.

Capinzal ou capital?

Capinzal.

Para que não espiem pecados por não ver.

Os contra

Movimento Maranhense em Defesa dos Novos Municípios.

Medenmu.

Não fosse a atraente sigla, a França Equinocial nem repararia a ação.

Coisa assim deve ser obra e graça do Movimento Contrário ao Eixo de Translação Parlamentar.

A muralha

Há dias um líquido umedece a pedra nua do Palácio dos Leões.

Lágrimas pelo mar de defronte?

Não, deve ser a infiltração de invernos tão tristes.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Gestão às claras

A população de São Bernardo está em pé de guerra com a prefeitura e a Cemar.

A primeira, por descumprir acordos de renegociação da dívida pública.

A companhia interrompeu o fornecimento de energia elétrica em prédios públicos após tentar receber o débito. Ludibriada, fez uso das turmas de corte.

São Bernardo, a trezentos e sessenta e oito quilômetros de São Luís, é alça e vasilha com a piauiense Luzilândia. Dezoito quilômetros separam as duas cidades.


Após assalto ao Banco do Brasil de Luzilândia, e fechamento da agência por tempo incerto, os comerciantes de lá começaram a procurar a cidade ao lado para negócios.

Se a procura vai perdurar à luz de velas é assunto pra outra prosa.

Os bons de briga

Reconheça-se.

Esses sindicatos são bons de briga e de bolso.

Não há multa que os façam chorar perdas no saldo bancário.

Os professores escreveram greve de 78 dias.

São Luís resistirá a dois meses sem o transporte coletivo?

Não aposte o contrário e esteja preparado.

É sua a conta da mesa ao lado.

Tim-tim.

Orquestração

Manhã cemariana.

Mais de cinco horas sem luz no centro histórico.

Não fosse as janelas do Leões escancaradas à brisa da Baía de São Marcos, a greve dos rodoviários e a falta de clientes no comércio, a terça-feira passaria despercebida.

E a pane elétrica?

Por um momento temi que no La Ravardière vissem nos episódios orquestração sinfônica contra o prefeito.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Evolução

Trocamos catar caranguejos e o que fazer pelo catar buracos.

Se não é progresso, vá catar melhor.

Matança desenfreada

Matar o “Senhor dos Buracos” é o objetivo de jogo que foi parar na internet.

A vítima é o prefeito de São Luís, arma em punho, felicíssimo, IPTU em dia.

A quem vai “matá-lo” posto o link abaixo.

http://www.pictogame.com/en/play/game/1FrMGCavRdPv_mate-o-senhor-dos-buracos

Nem me pergunte os autores do crime.

domingo, 22 de maio de 2011

A moda segundo Cath


Li certa vez sobre Ibrahim Sued, que ditou o colunismo social pós 64.

Tinha única calça quando começou a cobrir festas. Ao chegar à pensão, estendia a peça sob o colchão. No dia seguinte, outras festas, a mesma calça sem um amassado. Segundo ele, ninguém notava.

Sued fora buscar no passado dizer absoluto. “A pessoa é quem veste a roupa, e não a roupa quem a veste”. Traduzindo: charme e elegância pessoais são o que contam.

A história me veio ao esmiuçar Coisas da Cath (www.coisasdacath.com), blog no qual Ana Catarina Léda fala com profissionalismo de moda e modelos.

Recebe-me Audrey Hepburn. Tem bom gosto a minha sobrinha.

Bonequinha é rima irrecusável. Ambas um luxo só.

É universo infinito a moda.

Ana Catarina o fez próximo pela criatividade e linguagem despojada.

Não sei de outro blog a contar quase noventa mil acessos em tão pouco tempo de vida.

E não é que Cuscuz Delivery está na lista de blogs imperdíveis da Cath!

Longa vida aos dois, portanto.

A origem da mentira

“No Maranhão até o céu mente”.

Ecoa até hoje a frase do Padre Antônio Vieira, que conhecia o céu duas vezes – pelas orações e pelo saber meteorológico.

Segundo o sacerdote português, no litoral maranhense ocorria fenômeno único no mundo.

A inconstância do sol era de tamanha relevância que ludibriava os marinheiros e os induzia a encalhar barcos. O astrolábio ora indicava um grau, ora dois.


Vieira viveu no Maranhão província de Portugal nos anos de mil e seiscentos.

Percebeu ao chegar que os brancos se mostravam relutantes em converter os indígenas ao cristianismo, e esses continuavam pagãos.

Os brancos forasteiros queriam escravizar os nativos tapuias e furtavam tudo ao alcance dos olhos. Para o bom êxito do plano, não hesitavam em trapacear e mentir.

À insatisfação dos donos do poder com os jesuítas, a quem criticavam por proteger os índios, e à própria fúria pelas circunstâncias, responderia com “Quinta Dominga da Quaresma”, sermão ácido, bem ao estilo vieirense.

A verdade que vos digo é que no Maranhão não há verdade”.

Viviam sem solidariedade no “Reino da Mentira”, como chamou a esta terra.

O canibalismo dos crustáceos e dos peixes é o que imperava aqui, bradou.

Brasis

A 355 quilômetros de São Luís um hotel cobra quatrocentos e cinquenta reais pela diária da suíte.

Vá a Presidente Dutra e conheça terra de oportunidades e endinheirados.

Ali o valor dos imóveis se rivaliza com a capital, ouvi.

Se for ponto comercial, triplique o preço ou não leve. Aperreiam não; tem quem queira.

O antigo Curador cresceu enormidade. Corre para faturar a fama de maior pólo

desenvolvimentista do Maranhão Central.

E a tal suíte máster?

Com o que emperiquitaram a belezura sei não, que não paguei e não vi.

Mas que deu vontade danada, isso deu.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

De antanho

Fonfonar, verbo intransitivo.

Significava tocar a buzina.

Porfiar, disputar.

Não fosse o Houaiss e o Aurélio, deles não lembrariam.

E cavoucar?

Narizes e ouvidos da minha infância guardaram para sempre.

Ninguém mais judia, aporrinha, encasqueta, dá e recebe cacholeta, bogue, cascudo e bacuri.

Guerra de espadas? Guerra nas estrelas.

Nenhum menino espera mais o desafiado.

E nenhum mais se empapuça com quebra-queixo, mindubi, pão-cheio.

Ficou cheia de não-me-toques essa terra de sonhos desfeitos.

Fonfon

Lógica invencível guia a prefeitura.

Encolhe sistematicamente as áreas para estacionamento.

Em contrapartida, adia o quanto pode solução inteligente para o transporte público.

Sem perder a carona.

Alguém sabe o rumo do casario posto abaixo no centro?

Sim, aquele a abrir vaga a centenas de carros.

Multas, sanções e reconstrução caíram em bueiro sem fundo.

Essa gente conservada em ruínas carrega “esquecimento” histórico.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Cartão postal

O único acesso rodoviário a São Luís é verde.

De raiva, suponho, pelo capinzal medonho a tomar a BR-135.

Onça esperta fuja dele.

Corram dele os motoristas, os vendedores de milho, o gado livre, os fugitivos de Pedrinhas.

Dele se escondam a buraqueira e a falta de sinalização.

Porque a cidade não foge, dá vontade danada de não voltar não.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Sem máscaras

Nomeado por José Sarney prefeito de São Luís (1965 - 1969), Epitácio Cafeteira fez nome no carnaval maranhense ao proibir os Bailes de Máscaras já no primeiro ano do mandato biônico.

Levar a polícia a localizar “subversivos”, ou “inimigos” do novo regime – a ditadura – serviu como justificativa.

“Acho que ele não queria concorrência com a dele própria”, segundo versão hilária do historiador Carlos de Lima (morto este ano), em depoimento ao poeta Paulo Melo Souza (Jornal Pequeno, 4/5/2005).


Popularíssimos no século XX (década de cinquenta), os bailes eram o paraíso dos foliões dos sem-dinheiro, pula-cercas e homossexuais.

“Cheguei a presenciar vários desses bailes, mas nenhum deles foi mais importante que os comandados por Moisés Silva. O que teve mais repercussão ficava no Beco Escuro. As pessoas, principalmente as mulheres, usavam luvas e máscaras pretas, com um nariz pontudo e vermelho. Dessa forma, ninguém as identificava. Geralmente, eram prostitutas, meninas do comércio, empregadas domésticas ou mulheres casadas que pulavam a cerca”, lembrou Lima na entrevista.

O Febeapá (Festival de Besteira que Assola o País), de Stanislaw Ponte Preta, cita o prefeito pela proibição e o apelido ganho à época: "Epitácio Cafeteira da Família dos Bules".


“Lá em casa tinha um bigorrilho
Bigorrilho fazia mingau
Bigorrilho foi quem me ensinou
A tirar o cavaco do pau
Trepa Antônio
O siri tá no pau
Eu também sei tirar o cavaco do pau
Dona Dadá, Dona Didi
Seu marido entrou aí
Ele tem que sair, ele tem que sair”

(Letra de “Bigorrilho”, marcha carnavalesca de Jorge Veiga)

Amigos do homem

Contam sobre o senador Epitácio Cafeteira.

Candidato ao Senado, fazia comício em município de São Luís quando alguém gritou:

“Cachorro!”.

“É o cinco, o número do Cafeteira”, respondeu de pronto.

Os eleitores entenderam o recado.

Político astuto, associou o “cinco” aos números do animal no Jogo do Bicho e de campanha.

Se jogada de marketing ou não, só o senador pode confirmar.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Diário de guerra

Segunda, 16.

Desde cedo fecharam a rampa do palácio para o choque de ideias entre professores e policiais.

Havia tropas, carro-canil, viaturas.

Havia grevistas aquartelados em tendas, em uma delas a reprodução de “Honoráveis Bandidos”, carro de som e palavras de ordem.

Muitos canhões pra pouca pólvora.

Desde a última reforma o Leões ficou surdo por completo a ruídos externos e ao “troar das bombardas nos combates”.

Serviço de engenharia de primeira.

Ruindade

“A mãe dele é mais ruim que falta de fôlego”.

Ouvi de homem do interior, a ruindade carregada em erres e risos.

Na roda de amigos e desconhecidos não houve quem lhe saísse à altura.

Cruz credo!

domingo, 15 de maio de 2011

Triste sina

Pululam nos jornais maranhenses do século XIX e do início do século XX – em especial os de São Luís – notas graves pela omissão das autoridades.

A tolerância com as “casas suspeitas”, críticas aos serviços públicos e denúncias contra os excessos da Polícia aparecem em profusão nas páginas de O Repórter, Pacotilha e Jornal da Manhã.

Não estranhe a linguagem e a forma dos textos. É como escreviam a língua portuguesa à época.

“Nunca haverá limpeza possível, porque ella é feita sem ordem e com um numero insufficientissimo de trabalhadores. Tratão de limpar uma rua; quando chegão ao fim d’ella – o princípio já se acha completamente entulhado de cisco, de porcaria, coberto de matto. Hontem limparam parte da Rua do Sol, mas deitaram sobre os passeios toda a immundicie que encontraram! Serviço de gente porca (PACOTILHA, 24/05/1884)”.


“Saiba a população desta capital que soldados da polícia do sr. Tasso Coelho, chefe de polícia do governador Benedito Leite, andaram hontem praticando distúrbios na praça João Lisboa, onde se está fazendo a festa de Santa Filomena. E depois que estabeleceram o pânico no seio das famílias que alli se achavam, as quaes aterrorisadas corriam, saíram com uma algazarra infernal pelas ruas da cidade, alarmando a população que já àquela hora se recolhia aos lares (PACOTILHA, 17/09/1902).

“Para dar uma idéia da desorganização que esta situação tem introduzido em todos os ramos dos públicos serviços, mais não se precisaria accrescentar do que dizer que esta capital, com as suas avenidas de magnólias e violetas, é uma cidade que não tem policiamento algum. Isto, que redunda em eloqüente testemunho de boa índole do nosso povo, não obstante os furtos e roubos que quase diariamente registrando, redunda, egualmente, em attestado da nossa degradação como povo civilisado, e de que por aqui, como por todo paiz, abundam as sinecuras, porque se não há policiamento, há, entretanto, um chefe de policia (PACOTILHA, 18/07/1904).


Pincei as notas acima de “TRABALHO E RUA - Análise acerca do trabalho de rua em São Luís na passagem do século XIX ao XX”, apresentada por Paulo Roberto Pereira Câmara, em 2008, na sua dissertação ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Maranhão para obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais.

Não sei se o autor publicou a obra em livro. A cópia que possuo a capturei pela internet. Cento e quarenta e oito páginas de árdua pesquisa.

Repararam “com as suas avenidas de magnólias e violetas” em uma delas?

Haveria de ter melhor destino a São Luís onde plantavam flores nas avenidas.

Os reis do marketing

Sejamos justos.

Desde que Alessandro Martins saiu de cena sumiu a criatividade nas peças publicitárias de venda de carros.

O moço tem talento raro. Fez e estimulou culto ao “eu” para inundar o estado com milhares de veículos.

A coisa desandou mais tarde e deu num quiproquó dos diabos, mas essa é outra história da Carochinha.

Martins aperfeiçoou a fórmula, mas não é seu criador.

Na década de oitenta reinou por aqui Luís Antônio Noronha, o Noronha, sobre quem a cidade contava e repetia um sem-número de “causos” hilários. Fama e fortuna vieram na rabeira.

Era homem sem muita instrução o cearense que passou pelo Piauí e chegou ao Maranhão, no final dos anos 70, também no ramo de carros e peças.

O empresário Noronha, entretanto, esbanjava vocação invulgar nos negócios.

Simples e bonachão, foi ele próprio divulgar na tevê a sua mercadoria.

Soube o “causo” por um conhecido que a época revendia “cositas del Pararaguay”, pagamento adiantado, entrega na confiança.

Noronha encomendou a ele dois videocassetes. Antes a impaciência do outro pelo dinheiro, puxou algumas cédulas e as rasgou ao meio.

“A outra metade vai ver quando eu receber os vídeos”, disse, indo embora sem esperar resposta.

Recebeu? Nem duvide.

Curandeiros

Duzentos e dezessete municípios.

Há algum que não sobreviva da anomalia a que chamam FPM?

Deveria, tanto são os médicos a trocarem o jaleco por prefeituras moribundas.

A cura para as mazelas sociais renova o óbito a cada mandato.

Enquanto as urnas não vêm, goze o bolso boa saúde.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Relaxe e goze

Buracos.

Desconheço outro assunto mais profundo em evidência neste estado.

Em São Luís, invadiu bingos, casas de sushi, palafitas.

Há buracos nas invasões? Bem mais que escolas, professores, postos de saúde.

E nas ruas e avenidas? Bem mais bem que asfalto, árvores, iluminação pública.

Criaram na internet ferramenta para mapeá-los. Pobre prefeitura a não dispor de nenhuma para tapá-los.

Você já teve um tomagoshi?

Pois adote agora a versão regional.

Ter buraco de estimação te assegura status e mídia.

Otimismo, buraqueiro!

E aproveita o bem-bom do castelo com o qual sempre sonhaste.

De dar dó

Desolação tem nome e sobrenome. Maria Aragão, a praça.

Maldade sem tamanho chamar assim área sem árvores, sem trens, sem vida.

Procura vã. Não sabem da Reffsa, do rio tingido a anil, dos gritos do Maria Celeste.

De Gonçalves Dias, vizinho, não sabem. Saberá o poeta de Ana Amélia?


E o sol a entristecer esse mar de livros?

Arrancaram da Beira-Mar ou aviaram em feiras?

Assombros

“O que a escola pública é capaz de fazer deveria surpreender”.

Creio que o ministro Fernando Haddad jamais teria recorrido à frase caso soubesse da Frente Parlamentar em Defesa da Implantação do Piso Salarial Nacional do Magistério que, em breve, atravessará o Estreito dos Mosquitos rumo a Brasília.

Não há uma semana em que o Maranhão não assombre o país com fartos exemplos de altruísmo.

Xô, crise

Enfim, uma boa notícia.

A criação de órgãos e cargos em comissão em duas secretarias de estado.

O “Maranhão Profissional”, vê-se logo, começa com o pé direito.

Preencher os quatrocentos mil empregos apregoados pelo governo será questão de dias.

A salvação

Bênçãos, orações, mantras, textos de auto-ajuda, alertas de fraudes e desastres, correntes as mais estranhas.

Não há um só dia em que não cheguem a mim, de enxurrada, pelo correio eletrônico.

Dão-me horas ou segundos para reenviá-los a quem quero bem, sob o risco de acontecer comigo o que talvez não queiram ao pior inimigo.

A todos devolvo com esperança. A de que, ao tentar salvar o remetente, fique a salvo das suas mandingas e execrações.

Só por garantia, não desgrudo da oração a São Cipriano.

Amém!

terça-feira, 10 de maio de 2011

“Até pedra”


“Cópia, ditado, dissertação, tabuada, reprovação. No dia em que os mandarem embora, o ensino vai pro beleléu. Vou antes”.

Leitor ávido, polemista confesso, José Nascimento de Morais Filho é o mestre de quem ouvi a frase.

Durante mais de uma década fomos amigos diários no Canto do Protesto – um espaço de resistência, idealismo e rodadas intermináveis de café entre a Rua de Nazaré e a Praça Pedro II. O grupo era barulhento, mas calava ao professor.

Amigo de juventude de Ferreira Gullar e José Sarney, ao primeiro nunca perdoou por nunca ter escrito uma linha contra a instalação da Alcoa em São Luís.

Escreveu Drummond “A Geringonça”, citada por ele para criticar a omissão do autor de “Poema Sujo”.

Admirava a José Sarney – o homem, não o político.

“Traíste a tua geração”, disse ao próprio, o abraço mútuo a findar a nota.

“Sarnê”, que era assim como se referia ao outro José.

“Sarnê no Maranhão elege até pedra”, repetia aos que iam ouvi-lo.

E pedras grandes e certeiras foi a munição de Zé Morais durante anos contra a multinacional do alumínio.

A Alumar – ou melhor, a Alcoa – conte e reconte os estragos.

Obreiros

Um primor a iluminação da Pedra da Memória, na Beira-Mar.

Um presente de Castelo para o flanco desprotegido do Palácio dos Leões.

Não há como desperceber o charme da mistura de luzes e pichações com as ondulações no asfalto e o calçamento por refazer.

Obra superior a quarenta mil reais, leio em placa afixada no local.

A coroação de Pedro II deve ter custado bem menos.

Porcalhões


Na Europa medieval, a nobreza e o populacho atiravam dejetos e restos de comidas aos porcos de rua.

Cuspia-se à mesa e na bacia em que se lavavam depois de comer.

A imundície e a peste bubônica dizimaram um terço dos ingleses. Londres foi incendiada para conter a moléstia.

Castelos magníficos e sequer um banheiro. A nobreza defecava e urinava sob escadas ou na amplidão dos jardins, anotou Voltaire.

Até meados do século XVIII os médicos ingleses desaconselhavam o banho diário por considerá-lo prejudicial à saúde.

Emsaboar-se, diziam os recém-convertidos ao Cristianismo, atiçava o demônio e a luxúria.

O costume do casamento em maio coincide com o início da primavera na Europa, quando as famílias tomavam o primeiro e único banho anual. O buquê disfarçava o mau cheio da noiva.

Para aplacar odores fétidos, a França desenvolveu a arte da perfumaria.

São Luís francesa trocou a Jenni pela platéia do Arthur Azevedo.

Tragédia em um ato. Paulo Diógenes fará o país caçoar do nosso teatro de costumes.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Arrasou

"É obrigação constitucional do Estado reconhecer a condição familiar e atribuir efeitos jurídicos às uniões homoafetivas. Entendimento contrário discrepa, a mais não poder, das garantias e direitos fundamentais, dá eco a preconceitos ancestrais, amesquinha a personalidade do ser humano e, por fim, desdenha o fenômeno social, como se a vida comum com intenção de formar família entre pessoas de sexo igual não existisse ou fosse irrelevante para a sociedade."

Trecho do voto do ministro Marco Aurélio na ADIn 4.277.

Luíses

São Luís deve o nome não a Luís XIV, mas a outro Luís – o IX, a quem chamavam “São Luís”.

Luís XIV de Bourbon, o “Rei Sol”, ascendeu ao trono francês em 1643, trinta e um anos depois da fundação da cidade – 1612. Tinha menos de cinco anos

quando sucedeu o pai, Luís XIII.

A Luís XIV atribuem frase célebre – “O Estado sou eu” – e de autoria contestada por historiadores respeitados.

Também seria dele “É mais fácil conciliar a Europa do que duas mulheres”.

As inúmeras amantes devem tê-lo inspirado.

O método Mazarino

Diálogo entre Colbert, ministro de Estado e da economia do rei Luiz XIV, e Mazarino, cardeal e estadista italiano que serviu como primeiro ministro na França.

O primeiro mostra-se cético quanto a possibilidade do Estado conseguir mais recursos à custa de novos impostos, e proclama: “Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é possível”.

Mazarino recorre a método engenhoso e arrasador:

“Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente situada entre os ricos e os pobres: são os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficar pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos, mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tiramos. É um reservatório inesgotável”.

Fábulas fabulosas

Prefeitura de São Luís garante:

“Processo que originou o novo IPTU foi transparente”.

Deve ter sido mesmo. E costurado em processo de transparência que ninguém viu.

Lembram de “O Rei de Nu”, de Andersen?

domingo, 8 de maio de 2011

Mães

Vim de Dalila, que veio de Mundica, que de Iaiá veio.

Mãe, avó e bisavó convivi a não fartar.

Vim de muitas mulheres e a outras três me entreguei.

Wilna deu-me Júlia e Maria Laura.

Que vivam sempre em mim.

Bê-á-bá

Greve dos professores estaduais beira os dois meses.

A contrária ao ensino público de qualidade, ninguém mais lembra quando começou.

E quando o movimento findar?

Corre-corre de professores e alunos, o tempo perdido reinventado em nome de discutível fechamento do ano letivo.

Escolas e faculdades particulares agradecem competente e gratuita publicidade.

sábado, 7 de maio de 2011

Quem diria

“Prédios públicos abrigam mosquito da dengue”, estampa O Imparcial.

Agora você sabe o culpado quando não encontrar serviços e servidores nos postos de trabalho.

Sim, ele mesmo, o Aedes Aegypti.

Lenda urbana

O descaso destroça em fúria o casario arquitetônico de São Luís.

Pouquíssimos são os sobrados, bangalôs, meias-moradas e moradas inteiras a escapar da sanha do comércio de quinquilharias, estacionamentos pagos, lojas, escritórios e órgão de governo.

Questão de dias, adianto.

Há “quartos para sexo” no centro? Aos montes. Pergunte a qualquer camelô.

“Portal do absurdo”, a Rua Grande sequer poupou as cercanias dos Maristas, onde Irmão Jorge mandava e desmandava tal e qual um Barão do Apicum.

“São Luís, Patrimônio da Humanidade”. Quanta desumanidade o título.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

É definitivo

São Luís está um caos. Um caostelo.

Saravá, meu pai


No interior do Maranhão e em Teresina (PI) a gasolina custa em média trinta centavos menos que em São Luís. Encontrei posto com promoção a R$ 2,58.

Em Teresina, o botijão de gás custa R$ 32,00. Em São Luís – capital do possível e do impossível – avança a R$ 40,00.

Chegam pelo Itaqui gasolina e diesel entregues neste estado e em fatia extensa do Nordeste e do Tocantins.

O Itaqui é dado a mistérios, e não é de hoje. Jornais de época noticiaram a “morte espantosa” de mergulhadores e acidentes misteriosos na fase inicial de construção do porto.

Para afiançar a obra, autoridades e construtores recorreram a mães-de-santo e babalorixás. “Era preciso pedir licença à Princesa Ina”, atestaram.

Com o preço dos combustíveis perdido entre as vagas do Boqueirão, penso ser prudente renovar os “trabalhos” de Jorge Itaci.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O entulho da História

A História oficial relaciona o fim da 2ª Guerra com o desembarque dos aliados na Normandia. A rendição do Japão colocou pá de cal nas hostilidades.

A não-oficial conta outra versão. O conflito mundial só teve fim em 3 de outubro de 1990, com a queda do Muro de Berlim.

Durante quatro décadas e meia a Alemanha amanheceu divida entre dois blocos: ocidental e oriental – este último afinado com Moscou.

Lembram do entulho vendido como souvenir?

Pois é. O gosto pela bizarrice sobreviveu a Roma e chegou a nosso tempo em forma de grife.

Hi, Hitler!

Logo após o término da 2ª Guerra (maio de 1945), o jornal Folha de Pinheiro mandou ver em editorial:

“Destas páginas já avisávamos ao Führer que o seu plano de dominar o mundo não daria certo...”.

Na Baixada Maranhense há quem jure de pés juntos.

Caso o estado maior nazista tivesse assuntado o jornal a tempo, o Terceiro Reich não teria invadido a Rússia.

Deu do que deu. Hitler entrou numa fria ao imitar Napoleão.

Homens-bomba

“Obama manda matar Osama”.

A imprensa mundo afora perdeu a manchete. A brasileira, o rumo.

Como por encanto sumiram os sobressaltos inflacionários, as oscilações do dólar frente ao real, os saltos diários no preço dos combustíveis, os bilhões do Eike Batista, a herança política do Jackson Lago, os náufragos do Itapecuru e do Mearim, a refinaria de Bacabeira, o casamento real inglês e a pneumonia da “presidenta”.

Nem os atentados de 11 de setembro de 2001, recordo, receberam tantas linhas e fotos.

E são tantas as análises sobre o espólio do morto que, desconfio, um dia haverão de o querer vivinho da silva.

Os EUA entregaram ao terror o mártir que precisava.

Com os burros n´água

Quem estiver em Timon e quiser ir de carro a Parmarama e Matões deve seguir pela MA-040, certo? Errado.

A estrada interrompida no Maranhão faz a festa de balsa motorizada. Dez reais por veículo atravessado pelo pontão no Parnaíba, o rio a apartar Timon de Teresina. “Une”, dizem os românticos. Sei não. Deixei de ser faz tempo.

A viagem, se muito, tarda dez minutos.

Aproveite a água de coco gelada, milho cozido e bancos de sentar e cobertura sapecados a sol.

O coco também é do Piauí. “É, sim senhor”, diz o vendedor.

Dúvida cruel

Meia dúzia de construções arranjadas, “Governadora Roseana Sarney” quer ser município. Para garantir o “sim” da noiva fincaram placa de boas-vindas à margem esquerda da BR-222, no sentido Santa Luzia do Tide - Buriticupu.

É nesse fim de mundo que o povoado vai crescer e prosperar em prefeitos e vereadores.

Roseana não mire o lugar se quiser Senado pós-governo. Nem com reza braba e “Vale Festejar” conseguem reunir quinhentos habitantes.

Mas não duvide que o município vai vingar.

E quem nascer ali? Roseanense ou roseanista?