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sábado, 31 de março de 2012

O aprendiz e o mestre

E na São Luís que não dorme...

O filho telefona ao pai e pede dinheiro para saldar dívida de jogo.

Lamenta os revezes das cartas e enaltece a “sorte” incomparável do adversário.

- Imagina que ele fez três “Royal Stree Flush” só esta noite!

Mestre no carteado, o pai retruca:

- Três?! Pois eu tenho trinta anos de mesa e nunca vi nenhum!

* Royal Stree Flush é jogada imbatível no pôquer. Sequência de cinco cartas do mesmo naipe, do dez ao ás.

Remédio amargo

Doente, o prefeito vai a São Paulo para tratamento.

E os hospitais que a prefeitura de São Luís trombeteia?

Publicamente inoperantes ou serviços com qualidade impublicável?

É, ainda não será dessa vez que um gestor público vai provar do que tanto se empenha em oferecer ao zé-povinho.

A farra do boi

Todos fazem vista grossa ao esquema. Não é diferente no Maranhão.

A carne que você compra custa três vezes menos na mão do produtor.

A cada um real faturado, outros dois ficam com atravessadores.

A Associação dos Criadores sabe disso? Sabe e guarda os arreios quando tocam o berrante.

Estranho, não?

quinta-feira, 29 de março de 2012

Caixa elétrico

Prefeituras do Maranhão foram buscar meio inusitado para energizar o caixa.

Recebem em dia da concessionária a bolada correspondente à taxa domiciliar de iluminação pública, mas tantinho de luz nem como promessa eleitoral.

As tais

Voo São Luís – Manaus, da Azul.

“As tais das batatinhas que fizeram a Azul mundialmente famosa”, leio no saquinho.

Mundialmente famosa?

Imaginem se a empresa investisse só em serviços?

Estaríamos fritos.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Trabalho de casa

Prefeituras têm até agosto para apresentar alternativa aos lixões municipais.

E aos ficha suja? Quando?

terça-feira, 27 de março de 2012

Paisagismo lunar

Após forte chuva, cratera surge em calçada no Morumbi.

Os paulistas adoram reclamar de buraco cheio.

Em São Luís, o inverno nem é tão forte, e não há cratera onde não caibam calçada e rua.

Corrida contra o relógio

Na rotatória da avenida Beira-Mar com a rua do Egito “regularam” o trânsito livre, simultaneamente, nos sentidos Camboa - Ponte do São Francisco.

Desde Airton Senna não se via campeonato de largadas igual.

Relógio dos 400 anos a postos, só falta uma câmera de tevê para dar uma forcinha aos competidores.

segunda-feira, 26 de março de 2012

E mais nada

A foto ao lado foi capturada à entrada da Central de Serviço Turístico, que a prefeitura mantém na Benedito Leite, no prédio onde funcionou o Hotel Central.

Taí um dos bons motivos para explicar porque milhões de turistas virão a São Luís nos próximos anos.

Aprender o melhor português caribenho da “Jamaica brasileña”.

Pela mão dos omissos

Não há semana em que a mídia não informe acidentes fatais na BR-135.

A rodovia federal – rebatizada “Rodovia da Morte” no Maranhão – só encontra rival à altura no balanço policialesco de São Luís.

Cabe a pergunta, e sem trocadilho.

O que é mesmo “de morte”?

A estrada ou quem conduz o ritual diário de omissões?

domingo, 25 de março de 2012

Parabéns a você

O saite da prefeitura de São Luís (www.saoluis.ma.gov.br) precisa de atualização urgente.

Há meses é destaque na página principal banner sobre o I Prêmio Municipal de Educação Ambiental.

O evento teve inscrições encerradas em 16 de março.

Aliás, fora a marca oficial, nada ali indica oficialmente os 400 anos da capital.

Quem sabe no próximo centenário. O quinto?...

A contrapartida

Maranhão vai ensinar o Ceará a se livrar dos assaltantes de bancos.

Em contrapartida, eles poderiam nos dizer como nos livrarmos dos bancos, filas e juros.

Outra?

Rogério Cafeteira (PMN) defende comissão parlamentar estadual para cobrar da Infraero, em Brasília, o fim da reforma do aeroportinho do Tirirical.

Comissão? Outra?

De comissão em comissão, não há obra nesse país que decole assim tão rápido.

sábado, 24 de março de 2012

Um presidente no Maranhão

Afonso Pena – sucessor de Rodrigues Alves – foi o primeiro presidente da República a pisar em solo maranhense.

O convite partiu do governador Benedito Leite, a quem já admirava pelos discursos fervorosos a favor da ferrovia São Luís-Caxias, quando senador.

O objetivo oficial da visita era verificar a extensão do isolamento econômico imposto às cidades ao longo do trajeto, e a falta de navegabilidade do rio Itapecuru.

Sem a ferrovia, o Maranhão estava ameaçado de ficar “sem comércio e sem rendas para o Tesouro”, alertou em estudo o engenheiro Palmério Cantanhede, autor do projeto da obra.

Afonso Pena chegou a São Luís em 5 de julho de 1906. Sete dos dez dias no estado permaneceu a bordo de um vapor que o levaria e sua comitiva até Caxias.

Os sucessivos encalhes da embarcação presidencial por certo foram decisivos para o destino da São Luís-Caxias. O início da ferrovia contudo tardaria.

Nos três dias em terra firme, Afonso Pena foi recebido com um sem-número de banquetes, de discursos intermináveis, de homenagens. Nas cinco cidades onde esteve, o nome da rua principal foi trocado pelo seu.

Durante a estada no Itapecuru, o presidente se deliciou com “esporte” bizarro: a matança de jacarés. Por puro deleite.

Trem bão por demais

O presidente Rodrigues Alves sancionou em 3 de janeiro de 1905 a Lei nº 1.329, que autorizava a Estrada de Ferro São Luís-Caxias.

Projeto de lei de autoria do senador maranhense Benedito Leite – e aprovado no Congresso dois anos antes – liberava o governo a promover a construção da ferrovia e a contratar a obra a quem apresentasse as melhores vantagens, ou realizá-la por administração.

A estrada, depois de pronta, seria arrendada mediante concorrência pública, rezava o projeto.

Três empresas se habilitaram. Venceu a indicação a Proença Echeverria & Cia., com proposta de 9.052:000$000 (nove contos e cinquenta e dois mil réis). A mais alta atingiu 22.560:000$000.

A obra teve início com sério erro. Houve alteração radical e decisiva no traçado original, que passou a privilegiar uma das margens do rio Itapecuru.

Resultado: a vegetação ribeirinha foi impiedosamente devastada, o que provocaria o impedimento da navegação livre.

Custo final da ferrovia: cerca de trinta e seis contos de réis.

Os construtores reclamaram mais doze contos na justiça.

Fedeu

Em 18 de julho de 2011 postei “Camarões por soja” em Cuscuz Delivery, no qual resgatei trecho de entrevista do “ex-rei da soja” a um jornal. Nenhum comentário, nenhum juízo de valor.

Assunto mundano, um naco diante das centenas de estripulias que a imprensa e a internet colecionam sobre ele.

Pois bem. Nessa sexta-feira, 23, recebi o comunicado abaixo da Assessoria de Comunicação do "ex", ou de alguém a assinar como tal.

“Estamos entrando em contato com todas as pessoas que postaram informações, tais como, comentário de abuso de imagem agressivo.
Para seu conhecimento, COMPARTILHAR e PUBLICAR foto e informações indevida é crime, esta notificação esta sendo copiada para ser anexada com o processo.
Voce tem 24 horas para retirar a foto, caso você nao compreenda e nao retire, se iniciara o processo com multa diaria e voce será notificado por nossos advogados. Segue o link para retirada:
http://cuscuzdelivery.blogspot.com.br/2011/07/camaroes-por-soja.html
Muito Obrigada pela sua atenção, espero que possamos em comum acordo chegarmos a um bom entendimento.
Att.
Assessoria de imprensa do Sr...”


Retirei a nota, não por receio das ameaças de advogados.

Sob melhor julgamento, não há porque insistir com certos causos que valem menos que um grão de soja.

Governantes

Roseana Sarney é a recordista de mandatos para o Executivo do Maranhão. Ao final do quarto exercício terá acumulado quatorze anos no governo.

O terceiro mandato, incompleto, veio a reboque da cassação de Jackson Lago, e compreendeu, oficialmente, de 17 de abril de 2009 a 1º de janeiro de 2011.

A marca anterior pertence a Paulo Ramos, que dominou os Leões por dois períodos: o primeiro, como governador eleito (agosto de 1936 a novembro de 1937); o segundo, a partir daquele ano, já no “Estado Novo” de Vargas, mas na condição de interventor.

Paulo Ramos renunciaria ao governo em 23 de abril de 1945, antes do término da ditadura getulista.

O sucedeu o interventor Eleazar Soares Campos – a exemplo de Ramos, também de Caxias (MA) –, indicado pelo então presidente José Linhares.

sexta-feira, 23 de março de 2012

O irmão mais velho

Fora o relógio dos 400 anos, alguém sabe de outra excentricidade a lembrar o quarto centenário de São Luís?

- Buracos!

Não caia na tentação, não caiaaaaa...

quinta-feira, 22 de março de 2012

Apressadinhos

É notável o esforço da Caema para acompanhar a passos largos a corrida pelos 400 anos de São Luís.

A conta de água a vencer em abril chegou rapidinho na sua caixa de correios.

Água corrente, o conserto dos esgotos a céu aberto, o novo Italuís...

Paciência! Um estouro de cada vez.

Na ilha ao lado

São Luís não esconde o frisson com “Lado a Lado”, a novela global a ser rodada na “Ilha dos Rumores”.

Anime-se! Por quatro meses seremos mais famosos que os ilhéus baianos.

A princípio, ao contrário da fantasia beija-florista, o governo não vai puxar um centavo para financiar a trama. Mas... nada é impossível quando um elenco de estrelas passa a conviver lado a lado com o poder.

Fosse em período jurássico, iriam tentar a todo custo mudar o nome para “Lago a Lago”, nem que para isso aprofundassem o Boqueirão.

Mas os tempos são outros, acredite.

O máximo que podemos oferecer aos globais são as pulitricas do “Barrica”, os acordes imberbes da banda do "Bom Menino", o perfume exótico da Lagoa da Jansen, as poucas lendas que Nilópolis não assombrou.

E antevendo os modismos próprios das novelas, prepare-se:

A qualquer hora começam a perguntar...

- De qual lado você está?

quarta-feira, 21 de março de 2012

Oia nóis aí

Cem câmeras vão monitorar as vias públicas de São Luís.

Mire as primeiras dicas.

- Cuidado com o visual para não ser apanhado pelo Big Brother timbira em estado geral de insegurança.

- Anoitecer no ponto de ônibus não é o mesmo que amanhecer em ponto de bala.

- Não caia na tentação de discutir com os cinegrafistas da polícia qual o melhor ângulo de abordagem.

O resto é tiro e queda. Boa sorte!

terça-feira, 20 de março de 2012

Os exorcistas

Meio mundo leu "O Exorcista", viu o filme ou soube de alguém a enfrentar noites em claro e pesadelos em série ao lembrar a agonia da adolescente possuída, e as mil e uma peripécias terrenas do capiroto.

Jogada midiática ou não, gráficos e editor do livro sofreram problemas de saúde graves e inexplicáveis; o dito-cujo teria montado banca no set do filme; a atriz Linda Blair, tal e qual a sua personagem, viu a vida pessoal de ponta cabeça.

O que pouquíssima gente sabe é sobre os efeitos devastadores de "O Exorcista" em dois nordestinos.

O primeiro caso me foi narrado por uma prima do protagonista; o segundo, ouvi de pessoa muito próxima.

Valente que nem cangaceiro sem armas e escapulário, o heroi enfrenta a noite com dois livros: “Como Vencer O Medo”, o outro.

Apegou-se com afinco à leitura de auto-ajuda, mas não houve jeito: o diabo do pavor era o dobro que ele, e o triplo da vontade de chegar ao fim da narrativa. Até hoje desconhece, e destila raiva no vivente a relembrar o ocorrido.

Recém aprovado em concurso, o segundo sujeito segue para o interior. Sem namorada e pariceiros locais, enfrenta o final de semana na pensão com o manual diabólico na rede sol-a-sol, presente da família.

Lá pelas tantas, barulho medonho, no teto o próprio diabo ou emissário.

Prevenido, saca um 22 e descarrega a munição no belzebu madrugador. Santo remédio!

O amanhecer do dia traz o satanás em carne e osso. Mais braba que um capeta diante da cruz, a dona da pensão cobra o telhado arrebentado à bala. Cobrou e levou.

O diabo no teto?

Mucura ou coruja, soube dizer não.

Quanto mais medo, mais difícil ponhar mira boa nesses mensageiros do outro mundo.

Proibido é proibir

Estacionamento proibido já rendeu 22 mil multas em São Luís.

Rendeu?

Então a proibição não é quanto aos estacionamentos, mas a qualquer ameaça de recuo no apurado.

Achados & perdidos

“Local: Auditório dos Colegiados Superior Palácio Cristo Rei”.

De convite do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão para a posse de novo membro.

Quem sabe até lá encontrem o erro de concordância e o andar do palácio onde vão estourar o champanhe.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Nas terras de Caminha

Algum maranhense conhece cor e sabor da soja de Balsas ou de Chapadinha?

Sabe de escola pública que tenha incluído o grão no cardápio da merenda escolar?

Sabe de projeto social financiado pelos produtores?

De demonstrativo que explicite o quanto o “ouro verde” deixa aos cofres municipais ou do estado?

Terra abençoada, esta.

“Em se plantando tudo dá... no pé”.

No menu dos sem-tela

No Maranhão, apenas seis municípios podem ter horário eleitoral na tevê.

Sorte grande dos que ficarão de fora.

Mais, só se não aparecerem candidatos pendurados em parabólicas.

Por precaução, dê sumiço na sua.

domingo, 18 de março de 2012

A dieta

Fortaleza, Volta da Jurema.

Em mesa ao lado da nossa, um casal se empanturra com picanha na chapa e acompanhamentos. Chope vem, o diabo também, não deixam tantinho pra contar história.

Chamam o garçom.

Duas cocas diet!

Ante o olhar espantado do homem, a mulher solta:

- Estamos de dieta.

Fico boquiaberto como essas dietas de engorda funcionam mesmo.

Com coca diet, então, são tiro e queda.

Heleno (dois)

Em jogo pelo Botafogo, ainda no primeiro tempo Heleno de Freitas pede ao juiz que o substitua.

O árbitro o olha surpreso e pergunta se está machucado. Em resposta, aponta dois atletas do próprio time.

- Aquele ali não me passa a bola porque não quer; o outro, porque não sabe.

Por ironia, o craque jamais foi campeão carioca pelo Botafogo. O primeiro e único título estadual veio pelo Vasco.

Heleno (um)

Heleno de Freitas, centro-avante do Botafogo dos anos 40, vai chegar ao cinema na pele de Rodrigo Santoro. O original foi um dos craques mais controvertidos do futebol.

Rara habilidade com a bola, estilo elegante dentro e fora do campo, diziam nunca desalinhar o cabelo, mesmo em partidas sob temporal – proeza conseguida pela abundância de gomalina.

Era boêmio contumaz, notívago e mulherengo. O consórcio trouxe a ele a sífilis. Morreu aos 39 anos, depois de passagens por sanatórios, o cérebro dominado pela doença.

Na Colômbia, não reviveu a sequência de jogos excepcionais. Mas o suficiente para encher os olhos do já festejado cronista Gabriel García Márquez, que para ele escreveu “O Doutor De Freitas”. O escritor famoso viria mais tarde.

Torcedor roxo do Fluminense, também Nélson Rodrigues se renderia aos encantos de Heleno. “Não há no futebol brasileiro jogador mais romanesco”, escreveu.

sábado, 17 de março de 2012

Aos que dormem e não oram

Ser prefeito de São Luís exige olho vivo e reza forte.

Para afugentar dilúvios e nuvens negras

Para que o chão negro não dissolva em volta

Para as sandices do trânsito não levá-lo a reboque

E poupá-lo dos cruzamentos em via expressa

Para resistir ao cerco da casa holandesa

Para tempo de fuga rumo aos Leões

Para que o inimigo não durma e trame em palácio.

sexta-feira, 16 de março de 2012

Entre pontes e mosquitos

As autoridades transitórias do município seguem inventando e reinventando.

Nos finais de tarde, duas das três pistas da ponte do São Francisco são fechadas em direção ao centro. Cones e um carro atravessado garantem o arranjo.

Quem vai à nova São Luís, entretanto, tem como atrativo a espantosa explosão das palafitas ao longo do rio Anil.

Nessa sexta-feira, por volta das 17h30, a fila de carros disputava grandeza com a paciência dos motoristas.

A “solução” parece sacada dos manuais técnicos da ponte do Estreito dos Mosquitos.

Só falta, agora, rebatizarem a travessia daqui de ponte do Mosquito Estreito.

Duvidam?

quinta-feira, 15 de março de 2012

Democracia em versão demo

As eleições municipais deste ano prometem.

Decidirão o pleito candidatos fichas-limpas e fichas-sujas, e eleitores para quem a ficha não caiu e nem vai cair.

Glostore-se

“Uma lição que não deve ser esquecida é que todas as portas se abrem ante uma boa aparência… Para adquiri-la, nada há mais importante que um cabelo bem penteado… Um cabelo glostorado. Como glostorar-se: Ponha sobre a palma da mão algumas gotas de Glostora. Passe pelo cabelo e penteie-se. Glostora manterá em ordem seu penteado sem tornar o cabelo duro ou pegajoso. Uma nova nota de distinção e um atrativo varonil inconfundível!”.

Reclame da loção Glostora de 3 de abril de 1945.

Reclame é como clamavam a propaganda da época.

O coração fuxiqueiro

Jamais sentira outra dor senão a da fome a juntar horas para o estômago.

Viera ao mundo mais fome que coração, pensou, enquanto preparava a ceia matinal na morada do senhor.

E como o que pensou era bom, sorriu. E como a tarefa lhe aumentava o apetite, acariciou o ventre em sinal de aprovação.

Certa tarde, fome e coração o traíram.

Encontram-no suarento e semimorto, dor implacável a arrancar impiedosamente tudo o que de substancial o abdômen armazenara para os tempos difíceis.

O salvou a senhora de bengala que ajudava a tantos que sofriam do coração e aos que, em nome do coração, a tantos fizeram sofrer.

O levaram a tratamento coronário, esqueceram da fome que não o esqueceria.

Retornou um mês depois, mais magro e cheio de cuidados logo esvaziados.

Retornaram a barriga, o afrouxar do cinto e os cabelos engomados com Glostora.

Trouxe do quase além coração novo e fuxiqueiro, mais lembranças impuras que uma nau de pecadores.

“O coração anterior era bem melhor”, disseram, e nem um “ui” dele ouviram.

Aos que sofrem do miocárdio estomacal, piedade, Senhor, piedade!

quarta-feira, 14 de março de 2012

A parte de quem parte

Educadora por excelência, dona Filó venceu os anos cultuada por gerações.

Eméritos homens públicos do Maranhão e Piauí deviam a ela terem apreendido as primeiras letras antes das primeiras traquinagens políticas, o que certamente garantiria a eles penas mais brandas no purgatório.

Certo dia, os dois estados receberam com pesar a notícia de morte do marido de dona Filó. Dele, mal lembravam o nome ou o semblante, mas por certo acudiriam a veneranda senhora no instante de dor.

E uma multidão de discípulos e admiradores foi encontrá-la em pranto lancinante ao lado do caixão do falecido. Mal suportou as condolências, tamanho o sofrimento a lhe acentuar a magreza.

- Oh, Deus! Porque foste tão mau e não me levante no lugar do meu amado!

E dona Filó gritou lamentos a plenos pulmões, entrecortados por desmaios e crises de choro. E não houve quem contivesse as lágrimas, quem não admirasse a devoção imensa.

Em gesto extremo que só se conhece nos grandes amores, dona Filó abre a bolsa, retira foto sua e a deposita ao lado esposo entregue a sono eterno.

- Para que nunca esqueças de quem sempre te amou!

Uma amiga a testemunhar a cena a censura pela imprevidência.

- Estás louca, Filó? Os que morrem e levam algo dos vivos que lhe querem bem, não descansam enquanto não veem buscá-los. Querem companhia conhecida no outro mundo.

E não houve no velório quem não percebesse o rosto em choque da inditosa viúva, e atribuíram-no ao golpe brusco do destino.

Um após outro, os homens públicos e amigos do casal se derramaram em elogios ao defunto e desencavaram as incontáveis qualidades de união jamais sabida nos dois estados.

E mais e mais chegam ao caixão flores e coroas. E mais e mais o lugar toma ares de floricultura fúnebre.

E no calor insuportável, mais e mais se apertam os que vêm estender a mão solidária à estimadíssima mestra.

Dona Filó parece em transe, notam. Tateia os dedos magros e ainda ágeis pela flora mortuária, como se procurasse algo precioso e do qual não devesse estar separada. E todos externam nó pela inenarrável agonia.

As horas passam, não para a mulher a apalpar, histérica, um caixão de flores em desalinho.

As horas passam e vêm avisá-la do fechar do ataúde.

Contam os mais velhos. Nas duas cidades vizinhas ouviram um brado em fúria a ordenar a interrupção dos relógios, dos enterros e do respirar dos seres viventes, enquanto não tivesse em mãos foto inadvertidamente perdida naquele dia triste. E assim foi feito.

E foi assim que o marido de dona Filó partiu sem levar um naco do amor tanto deixado em vida.

terça-feira, 13 de março de 2012

O encontro

O destino reservou terça-feira fria e chuvosa para o primeiro encontro.

Ela, em caminhada matinal. Ele, em contemplativa observação do nicho onde imperava absoluto.

Será que a vira, pergunta-se nossa heroína.

Tenho certeza ter-me visto. Mas porque não corre, porque não repudia a quem pode dilacerar sua carne e coração, questiona o rei destronado das suas águas turvas.

Altiva e destemida, a princesa vence o tempo e o torpor e se arrisca em ato único.

Vence rapidamente a distância que os separa e registra em prova definitiva a atração avassaladora e impossível.

E de tão perto o soberano admira quem venceu medos para tê-lo por um instante.

Em retribuição, mostra o quanto podem ser enormes e insaciáveis os olhos, a boca e a fome do desejo.

Vê as curvas sinuosas e imagina ainda mais brancas as coxas intangíveis a um cerco desconhecido. Jamais saberia o volume e a textura daqueles cabelos loiros se desprotegidos ao vento. Resignado, fecha os olhos em adeus.

Saciada a curiosidade, ela ruma para o trabalho. Em gesto vitorioso, exibirá aos colegas vistoso troféu de caça.

Em foto, vê-se jacaré de bom tamanho na grama de Lagoa da Jansen mal amanhecida.

O jacaré? Que tenha fim igual à princesa, que tenha bom fim.

Um compadre na capital

O homem do interior chega a São Luís e quer logo conhecer a ZBM, a Zona do Baixo Meretrício, também famosa como “28”, um lugar chique à época.

Tal e qual formiga em açúcar, deixa-se seduzir pelo doce encanto das “meninas”. Erro fatal. Acorda no dia seguinte sem forças, dopado, o bolso vazio, nem rastro do dinheiro que trouxera.

As meretrizes e soldados de polícia foram os responsáveis, soube.

Desesperado com o embaraço procura o compadre da capital, por acaso chefe de polícia. Após ouvir a história, pede calma ao amigo, prometendo-lhe resolver rapidamente o caso.

Reúne a tropa no pátio do quartel – que funcionava onde hoje é o Convento das Mercês –, exige a devolução do furto, marca local e hora, promete punição severa.

Contam sobre o “aparecimento” de quantia maior do que fora levada.

Mais tarde, em conversa com o interiorano, o chefe teria soltado a frase:

- Compadre. A polícia do Maranhão é noventa por cento corrupta; os outros dez por cento estão no estágio.

Convite foi, convite voltou. Nunca mais compadre deixou o mato pra se lambuzar nas doçuras da capital.

Crias do medo

Igarapé Grande, Maranhão.

O estuprador investe, a menina de dez anos grita em desespero. Luta perdida, tara saciada.

“Pai” e filha, sangue e fome.

Há quem acredite na recuperação e ressocialização de bestas-feras.

Talvez ainda mais doentes que a sociedade que a tantos cria e alimenta.

domingo, 11 de março de 2012

O estuprador e a miss

No início dos anos noventa, São Luís foi assombrada por Valney, um estuprador que elegeu como vítimas mulheres da sociedade.

Sagaz e muito inteligente, possuía lábia irresistível com o sexo oposto, diziam.

Conseguiu prendê-lo Luís Moura, delegado de quem contam mil bravatas e truculências.

Certo dia, acadêmicos de Direito da Ufma vão entrevistá-lo na cadeia. No grupo se destacava uma jovem que viria a ser coroada Miss Maranhão.

Extasiado com a beleza da futura miss, Valney solta o bote:

- Mas que pescoço tentador!

A frase foi a deixa para o término da entrevista, e início de pesadelos que acompanharam a dona do pescoço por bom tempo.

* Valney morreu assassinado na extinta delegacia Metropolitana (retorno do Olho D´Água), em provável crime de execução. Crime ou não, sua morte foi um alívio para dezenas de famílias. A sociedade estava salva!

A rede

Rede hoteleira de São Luís tem oito mil leitos, diz sindicato.

Faça a conta pelo lado oposto da rede.

Seriam necessários oitenta hotéis e pousadas com cem leitos, cada, para fisgar o espetacular cardume de turistas.

Caso não saiba onde visitantes e quartos andam se escondendo, procure nos subterrâneos da ilha. Ou nos porões do centro histórico.

Boa caçada!

sábado, 10 de março de 2012

Melodia noturna

Sábado, sete da noite.

Tocam a campainha e vou atender. Um homem altíssimo, negro, um vara-pau, pede ajuda.

Fora assaltado, corria o risco de perder o emprego, precisava de dezessete reais para voltar para casa, insiste.

Puxo dois reais do bolso e entrego a ele. O “pidão” agradece – “já é um começo”, retribui – e vai buscar outro “colaborador”.

Antes de sair da minha vista, reparo. O magrelo tem roupas limpas e em ordem (camiseta e bermuda), tênis e relógio. Não há cheiro de bebida.

Golpe? Sei lá.

Exceto pelo bigode ausente, o homem era sósia quase perfeito de Luiz Melodia.

Fui "cantado" por quem gosto tanto. Amém!

Tragédias nacionais

Um ano depois, Tóquio reconstruída, nenhuma lembrança aparente da tragédia.

Terremoto no Brasil?

As empreiteiras amigas do governo brigariam quatro anos pelo direito de tocar as obras, e seriam necessários mais quatro anos para finalizar os projetos.

No décimo ano do tremor verde-amarelo, o consórcio de construtoras anunciaria: os recursos acabaram. Caso queira pontes e estradas novas, o governo nos coce.

E o governo mobilizaria o país em cruzada cívica pela reconstrução nacional.

Ao final do décimo quinto ano, o que sair do papel, papel será.

Pescados na fé

Menos de dois quilômetros separam o retorno da estrada de Ribamar da praia de Panaquitira.

Pouquíssimas casas, boa parte delas à venda, inclusive um hotel.

Florescem pelo caminho os templos.

Pelo menos quatro estão de pé. Quantos mais trará a ?

Multiplicam-se os pecados; os pescados conte um mar de faz de conta.

sexta-feira, 9 de março de 2012

A caminho

Feijão e manteiga são os vilões da alta da cesta básica no Maranhão.

Com notícia assim, os remarcadores de preços passaram a sexta-feira aliviados.

Panelas e estômago, então, nem abriram bocas em protesto.

Para abril, novo vilão anda cotadíssimo: a visita de Roseana a Obama.

Oba!

Brilho ofuscado

Camaro destruído na Litorânea.

Fosse um fusquinha, passaria batido.

Em qualquer lugar do mundo, os fuscas são cultuados como peças de museu.

Não em São Luís, capital nacional dos carros novos e novos ricos.

Aqui, andar de fusquinha é acidente com vítima fatal.

Fuscão preto, aqui? Nem pra despachar defunto.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Mulher

Viemos todos da mulher.

Viemos todos de um ser insuperável no parir das dores e dos amores.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Maluco beleza

Repararam no Relógio dos Quatrocentos Anos nos últimos dois dias?

Pois o troço amalucou de vez.

A contagem regressiva é uma a quem vem do São Francisco, e outra – bem menor – a quem estaciona no centro histórico.

Pelo sim, pelo não, tenho evitado a ponte e o mecanismo diabólico.

Quem nos garante que um lado não nos remeterá ao passado, e o outro – fugidio ao tempo – ao futuro do pretérito?

Areia movediça

Vendedor de mate vira patrimônio cultural em praias do Rio.

Taí uma ideia que vale a pena chegar ao mercado praieiro de São Luís.

Desde que, primeiro, abatam sem dó os preços de matar.

Tudo é carnaval!

Filho de um prefeito maranhense convidou dezenas de colegas para o carnaval na progressista cidade onde o papai é o manda-chuva.

Convite aceito, foram rapazes e moças com despesas garantidas pelo anfitrião.

Por fatalidade, um deles cai e tem fratura exposta no braço.

Encaminhado ao único hospital – municipal, é evidente -, a vítima e amigos recebem a notícia de uma enfermeira:

Não havia médico de plantão e nenhum medicamento disponível contra dor.

O sofrimento do rapaz e a pressão dos companheiros sensibilizaram o gestor público. A vítima é, então, levada a outro município para atendimento de urgência.

Médica recém formada, uma filha do prefeito teria demonstrado horror com o vexame.

Exceto pelo acidente juvenil, o carnaval na progressista cidade foi dos mais fartos.

Que o prove o cachê pago às bandas estrangeiras que animaram a folia.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Espelho, espelho meu

Caso seja verdade que o Hospital do Servidor (antigo Ipem) está a cara dos hospitais paulistas, é estranhíssima essa persistência dos maranhenses em rumar para a paulicéia desvairada a simples sinal de dor de cabeça ou de cotovelo.

Deve ser para conhecer as novidades na Saúde da 25 de Março ou da Santa Efigênia.

Sim, só pode ser isso.