Detentos no Ceará fazem greve
de fome por direito a sanduicheira e TV nas celas.
Nada contra os pedidos dos
moradores da Casa
de Privação Provisória de Liberdade, mas que tal estender idêntica liberdade a
quem está preso ao trabalho e dívidas?
Os
inquilinos de Pedrinhas, no Maranhão, vivem situação oposta a dos colegas
cearenses.
Aqui,
a quantidade de ratos no presídio é tamanha que falta fome e ânimo para greves.
A senhora esperou a
noite inteira a morte do morte. O dia veio encontrá-la sentada em cadeira do
quarto, e nada do aviso da sua viuvez.
Não lembrava se
chorara, não lembrava de coisa alguma senão da voz do mensageiro a trazer dor que
não conhecia.
Lá pelas tantas,
ainda com o vestido da noite anterior, rumou ao cabaré do sucedido.
Encontrou o homem
inerte em chão que lhe parecera lavado com sangue. O senhor de posses e poder
de mando mantinha os olhos abertos, e dele não escapam palavrões e gestos.
As quengas e o farmacêutico
tentavam a custo estancar o maldito sangue negro que saltava aos borbotões de todos
os malditos orifícios daquele corpo que a tantos mandou saber do inferno antes.
Durante três dias e
três noites a senhora e as quengas esperaram o último suspiro do sangue.
Durante três dias e
três noites esperaram médico e padre que soubessem do senhor à espera de outro
mundo também seu.
Senhora e quengas
lembraram.
Exceto o senhor, todos os que conheceram a única entrada e saída da
cidade estavam mortos, mais mortos que o homem que os mandara saber como
escapar do inferno.
Não lembro ter lido
ou visto em filmes nada sequer próximo a caso ocorrido no interior do Maranhão,
anos atrás.
Casada com homem de
posses e poder de mando, a jovem senhora vivia submetida a seguidos e intermináveis
castigos.
Ora era encarcerada
na própria casa, ora o feitor a proibia de lhe dirigir voz ou olhar.
Os estupros e surras
medonhas foram tantos, e por tantas noites, que esqueceu quando deixou de
contá-los.
Durante anos sentiu o
homem deixar em seu corpo o resto de suas fêmeas; durante anos o viu limpar o
sexo ainda sujo em qualquer roupa a apanhar nos olhos.
Fechava os olhos com
força, mas era mais agudo o fedor animalesco a lhe revolver as entranhas.
Vinham os vômitos e
as diarreias, vinha outra noite e nada da morte a quem tanto chamava.
Certa madrugada de
chuvas torrenciais, mandaram acordar a senhora.
O mensageiro trazia
notícia urgentíssima: o senhor caíra de escada num cabaré, a queda tão grande e
feia que dele arrancara mais sangue e agonia que dos porcos recolhidos para as
festas da padroeira.
- O homem está às portas da morte! - gritou, e desapareceu em seguida no aguaceiro.