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sexta-feira, 6 de abril de 2012

A farofada

Despachada e de franqueza invulgar, arrumou a casa como pôde para o aniversário do marido. Esqueceu dela, que isso não carecia.

Mandou providenciar cervejas e refrigerantes, mandou buscar as comilanças no interior.

Lá pelas tantas, o lugar atulhado de convidados – a nata das autoridades, todas colegas do marido – a mulher atravessa o terraço com bacia à mão.

Pelo ar, o cheiro inconfundível de linguiça frita, caseira, leitãozinho novo.

As madames torcem o nariz e passam a disputar a tapa o banheiro e a porta da rua.

Os homens pigarreiam, clamam por socorro invisível.

E a dona da casa, vendo festança mais sem graça, foi ela mesmo se servir da sua farofa de linguiça. O marido a segue.

Cerveja vai, cerveja vem, a fome do povo aumenta.

Um conviva arrisca o petisco, aprova. Não demora, não se vê um só sem os beiços engordurados.

Festa danada de boa, não soube de quem não gostasse. Até hoje pedem a receita da farofa, exaltam a espontaneidade dos anfitriões.

Se eu estava lá? E feliz da vida com a minha cumbuquinha.

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