
Casada com homem de posses e poder de mando, a jovem senhora vivia submetida a seguidos e intermináveis castigos.
Ora era encarcerada na própria casa, ora o feitor a proibia de lhe dirigir voz ou olhar.
Os estupros e surras medonhas foram tantos, e por tantas noites, que esqueceu quando deixou de contá-los.
Durante anos sentiu o homem deixar em seu corpo o resto de suas fêmeas; durante anos o viu limpar o sexo ainda sujo em qualquer roupa a apanhar nos olhos.
Fechava os olhos com força, mas era mais agudo o fedor animalesco a lhe revolver as entranhas.
Vinham os vômitos e as diarreias, vinha outra noite e nada da morte a quem tanto chamava.
Certa madrugada de chuvas torrenciais, mandaram acordar a senhora.
O mensageiro trazia notícia urgentíssima: o senhor caíra de escada num cabaré, a queda tão grande e feia que dele arrancara mais sangue e agonia que dos porcos recolhidos para as festas da padroeira.
- O homem está às portas da morte! - gritou, e desapareceu em seguida no aguaceiro.
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