O homem tinha a chave de testes dos nervos da casa.
Duas ou três idas à oficina e nada.
Era preciso repetir recados, chaleirar, acenar com “algum” a mais.
Atenção, o homem gordo e sua maleta gorda chegaram.
Era a personificação da empáfia. Nem boa-tarde ouvíamos.
“Pois nem merenda vai ter, seu desgrama”, ameaçávamos. Ficava no pensamento.
O homem abria o aparelho, verificava válvulas contra a luz, remexia, cutucava.
Estávamos certos de ter ouvido “hum-huns” estranhos, quase mau agouro. Rezávamos.
Ficou tempão nesse frege, até que pediu um pipo de borracha ao meu pai.
Apalpou o objeto, conferiu a maciez, o colocou entre duas peças.
“Liga!”, gritou, a voz mais mortífera que flecha apache.
Mesmo “feridos”, tínhamos de volta a nossa televisão.
Desde esse dia tive certeza.
Técnicos e tevês sugam bolso e paciência da gente.
O conserto? Um dinheirão, e graças a pipo lá de casa.