Total de visualizações de página

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O pipo

O homem tinha a chave de testes dos nervos da casa.

Duas ou três idas à oficina e nada.

Era preciso repetir recados, chaleirar, acenar com “algum” a mais.

Atenção, o homem gordo e sua maleta gorda chegaram.

Era a personificação da empáfia. Nem boa-tarde ouvíamos.

“Pois nem merenda vai ter, seu desgrama”, ameaçávamos. Ficava no pensamento.

O homem abria o aparelho, verificava válvulas contra a luz, remexia, cutucava.

Estávamos certos de ter ouvido “hum-huns” estranhos, quase mau agouro. Rezávamos.

Ficou tempão nesse frege, até que pediu um pipo de borracha ao meu pai.

Apalpou o objeto, conferiu a maciez, o colocou entre duas peças.

“Liga!”, gritou, a voz mais mortífera que flecha apache.

Mesmo “feridos”, tínhamos de volta a nossa televisão.

Desde esse dia tive certeza.

Técnicos e tevês sugam bolso e paciência da gente.

O conserto? Um dinheirão, e graças a pipo lá de casa.