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quarta-feira, 25 de abril de 2012

A viúva negra

Como ele não a tocasse, deixou crescer os pelos pubianos.

Um mês, dois meses... No terceiro aniversário de clausura involuntária disse a si mesma: aprenderia a urdir ódio e vingança em único corpo.

A sua represália seria vê-lo atônito com a descoberta de floresta a jamais poder desbravar.

Riu freneticamente a antegozar o momento. Riu do próprio sexo que, esquecido do último estímulo externo, sentira murchar por completo.

Por um instante o desejou inexistente. Tentou encontrá-lo, mas chegou aos dedos magros apenas o seu matagal pétreo. Pensou em desistir da rebeldia. Não, resistiria!

Esperou que saísse do banho e a visse nua. Ele a vira, tinha certeza, contudo duvidava do quê de fato ele vira. Continuava impassível, sequer reclamou quando lhe disse que naquela noite não haveria jantar.

- Tem outra! – estava convicta. - Tem outra e, por certo, é bem melhor que eu. Terá seios mais firmes, o sexo que se umedece ao olhar guloso e pedinte?

Não houve lágrimas naquela noite. Adormeceu entre ódio e vingança e acrescentou aos sonhos toda a solidão que armazenara no coração em trevas.

O jornal do dia seguinte traria nota estranha:

“Homem de idade indefinida é encontrado morto na cama, envolto por teia enorme que a polícia desconhece a origem e de onde veio. Estava nu e não possuía o órgão sexual. Nenhum bilhete foi encontrado próximo ao corpo”.

Jamais encontraram a viúva.

Lembrou?

Lembra quando morria de trabalhar, trabalhava pra não morrer e vivia a esperar a velhice e o crescer dos netos?

Lembra?

E o nome que davam ao Alzheimer nessa época?