Não conheci Marcelo Dino, o garoto a abandonar sonhos aos treze anos.
Mal conheço o pai, Flávio Dino, a quem só sei a renúncia da carreira na magistratura federal e o perseguir de sonho político.
Como faço há vinte anos, lembrei-me também hoje do domingo à noite em que Flávio nos deixou.
Revi meu pai a chorar pelo filho mais amado e que não pudera acudir.
Meu pai
. A dor pelo câncer, a outra pelo arrancar de uma perna – tiquinhas, inexpressivas, diante do filho inanimado e pétreo.
“É apenas o corpo”, disse-lhe, a voz num engasgo a tentar lhe roubar angústia jamais minha.
Não era.
“O tempo cura a todas as feridas”, sempre ouvi.
Qual? O que não conheci ou veio por comida e carinho lá em casa?
“O tempo amiga a todas as feridas”, reescrevi quando papai foi ao encontro do filho.
E o que era dor ficou maior que o adeus imaginário e infindável.
E ficou porque resistiria à vida.
Ainda que uma parte teime em ficar, a outra parte de mim foi embora numa noite de domingo.
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