A história sucedeu a um amigo, e foi contada por ele em noite de serenata a São João da Barra.
Façanheiro e menestrel incorrigível, uma sucessão de empregos fugidios no currículo, o bon vivant se declara metido em enrascada formidável.
O marido de uma mulher com quem tivera um rolo há décadas o procurara pelo celular para conversa cara a cara, e de “homem pra homem”.
Munido das muitas espertezas da vida, ajeita o escapulário, capricha nas orações e sai em direção ao derradeiro encontro.
O sujeito não faz rodeios. De pronto, atira-lhe no escutador de merengue um sem-número de ligações entre ambos, o juízo que o mandava lavar a honra, se não o fazia era pelos filhos...
O bon vivant escuta o lamento pacientemente. Sem um traço sequer de inquietação jura por céus e mares pela seriedade da mulher; ela o buscara na condição de antigo colega de escola; estava preocupada em ouvir voz amiga que a aconselhasse em momento difícil da vida familiar; a relação que se deteriorava a cada dia...
O quase corno ouve as explicações, deixa escapar lágrimas e pede desculpas ao amigo familiar pela arrogância. “É que estou desempregado e à beira de uma loucura”, revela.
O menestrel não perde tempo.
“Desempregado? Pois posso te arranjar um serviço em outro estado”, despacha.
“Outro estado? Mas é que eu tenho família...”.
“Olha, é pegar ou largar. Pra conseguir isso vou ter de pedir uns favores a uns amigos, o que não sou de fazer por qualquer um. E aí?...”.
Ninguém sabe ao certo se o homem foi se apresentar no tal serviço, mas quem ouviu a narrativa não deixou a coisa no ar:
“E porque não foi tu mesmo assumir o trabalho?”.
“Eu?! E por acaso era eu o necessitado ou ele?...”.
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