Cresci vendo-o perambular pela Praça João Lisboa e arredores, a popularidade a rivalizar com “Rei dos Homens”, ambos personagens típicas da São Luís da década de sessenta.
O chamavam “Boquinha” e creio que dos que conheceram poucos lembrarão o nome.
O apelido, diziam, viera da boca aberta a gilete ou navalha. Chegara ao mundo sem a abertura bucal, também falavam. Era ser medonho, imundo, uma camada grossa de remela a escorrer pelo rosto.
Comia do que davam a ele em vasilha ou papel. Comia em colher de mão, que vez por outra “limpava” pela calça.
Apesar dos maus modos, nunca soube de “Boquinha” um gesto de violência.
Contavam, nunca vi. Próximo ao Natal os taxistas da João Lisboa o agarravam para banho à força, o único do ano, entre urros e palavrões.
“Boquinha” e “Reis dos Homens” morreram.
O primeiro se foi e deixou maldição.
A João Lisboa ficou igualzinha a ele, porcalhona, cercada por restos de compaixão.
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