O computador nos impõe riscos demais.
Um deles – e dos mais perigosos – é a não-exigência de escrever à mão, o lápis ou a caneta a deixar no papel as ideias que o espírito fabrica em profusão.
Jornalista, acostumei-me nos últimos anos com rabiscos que mal decifro após cinco minutos.
Não mais existia a caligrafia própria. Algo caprichado era invocar um exercício penoso, a munheca a latejar de dor. Pois era justamente a falta do hábito de por tinta no papel.
Comecei a expiar o pecado na semana passada.
Bloco à vista, determinei-me a escrever como aprendi no Jardim Antônio Lobo(ah, há quantos anos não vou à Rua da Saúde!), todos os dias, um tico que seja.
Redescobri prazeres e palavras, senti-me Galileu, vi-me navegador dos mares de Camões.
Deixe o computador de lado, tente, invente.
Nem é preciso poemas em tinta verde como Neruda.
Escreva e deixe amadurecer.
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