Aos sábados, invariavelmente, ela telefonava com alguma morte a contar.
Detalhes sucintos, profissionais, o suficiente para o ouvinte saber logo: alguém importante batera as botas.
Não sei quanto tempo depois, e a narrativa foi substituída por mensagem de texto.
Três ou quatro linhas, e ali estava vida inteira.
Não havia dúvidas. Minha amiga se tornara especialista em despachar defuntos. Sem flores, sem floreados.
Acostumei-me a esperar as mensagens. Apostava comigo. Naquele sábado ninguém morreria, e nada de texto.
Por volta das seis da tarde o telefone toca, na linha a voz inconfundível da mensageira.
Conversa vai, conversa vem, e nada de um mortinho baixo clero. Procurava boa desculpa para findar a lengalenga, quando ouvi grito medonho:
- Aiiiii!
- O quê foi? – perguntei assustado.
- Matei uma barata!
Nenhum comentário:
Postar um comentário